Dinheiro parado para maior segurança ou dinheiro a render para o futuro – encontrar o equilíbrio certo é mais difícil do que parece.
Ter ou não ter um fundo de emergência, eis a questão. Apesar de ser uma recomendação recorrente no que diz respeito a finanças pessoais, o fundo de emergência não é tão consensual como se possa pensar.
Eu próprio já escrevi sobre como criar um fundo de emergência e procuro manter um fundo de emergência equivalente a 6 meses de despesas básicas. Mas de vez em quando também me questiono sobre o benefício de ter aquele dinheiro parado e sem qualquer retorno.
Neste artigo vou partilhar um exemplo pessoal e reflectir sobre os aquilo que devemos considerar no que diz respeito ao fundo de emergência.
Uma emergência pessoal
O cão que vês na foto acima chama-se Trovão. As nossas vidas cruzaram-se em 2014 quando o encontrei abandonado com poucas horas de vida. Ele foi o único sobrevivente de uma ninhada de quatro. Desde esse dia passou a ser parte da família.
Essa mesma foto foi tirada em 2021 e pouco depois de uma operação de urgência aos intestinos. Infelizmente, esta não seria a última vez que seria confrontado com algo semelhante. Não me vou alongar sobre os custos de saúde em geral nem veterinária em particular. Digo-te apenas que são elevados.
Felizmente e graças a ter um fundo de emergência, pude cobrir as despesas associadas à operação. Foi literalmente a diferença entre a vida e a morte. Não consigo sequer imaginar o que teria acontecido se a minha situação financeira fosse diferente.
Nós tendemos a subvalorizar tudo aquilo que pode correr mal.
Pontos a favor
Ter algum dinheiro de lado para imprevistos parece uma decisão sensata, afinal mais vale ter e não precisar do que precisar e não ter, certo?
No caso de sermos surpreendidos por uma despesa que não estava no programa, as contas do mês podem ficar estragadas. Depender da ajuda de terceiros ou do cartão de crédito como solução não é a situação ideal.
Alternativamente, ter de liquidar investimentos para cobrir despesas também não é a melhor opção. Com isso teremos de pagar imposto sobre quaisquer ganhos realizados ou pior ainda incorrer em perdas caso o mercado esteja naquele momento em contraciclo.
E é preciso considerar também o descanso psicológico que é ter um fundo de emergência, algo que por vezes é desvalorizado.
Ter uma almofada financeira permite reduzir o nível de preocupação e ansiedade com o futuro e quaisquer imprevistos que ele reserve. No fundo estamos a comprar mais tranquilidade.
Pontos contra
Do outro lado da balança temos o facto de estarmos a perder dinheiro com o fundo de emergência. Em primeiro lugar, pelo efeito da inflação que faz com que o seu valor real se vá destruindo a uma taxa de -2% ao ano.
Em segundo lugar, porque esse dinheiro não é investido e, portanto, existe um custo de oportunidade que pode ser muito maior. Ao não investirmos esse dinheiro, estamos a abdicar de um ganho anual entre 6%-12%.
Além disso, existem outras opções possíveis para lidar com imprevistos além do fundo de emergência. Num cenário de desemprego, a maioria das pessoas tem direito a uma compensação por parte da empresa (por despedimento) e um subsídio de desemprego garantido pelo estado.
Existem também inúmeros seguros disponíveis, uns obrigatórios e outros opcionais, que podem cobrir as mais variadas situações, tais como seguros de vida, saúde, automóvel ou habitação.
A considerar
O fundo de emergência é na prática um seguro contra imprevistos. Não existe uma fórmula mágica que serve a todos por igual, tal como em qualquer outra coisa, cada caso é um caso.
No entanto, se queres reduzir a necessidade de um fundo de emergência eis alguns factores a considerar:
- Segurança financeira – ter uma situação financeira sólida, um trabalho estável, mais do que uma fonte de rendimentos e levar um estilo de vida frugal dá-te mais segurança e reduz a necessidade de ter um fundo de emergência.
- Portfolio de investimentos – ter um portfolio investimentos elevado e diversificado oferece-te mais garantias em caso de qualquer necessidade imprevista, ainda que com desvantagens financeiras em caso de liquidação.
- Perfil de risco – uma pessoa avessa ao risco tende a valorizar um fundo de emergência mais sólido pela segurança que isso lhe traz (quanto maior, melhor). Por outro lado, uma pessoa com um perfil mais arriscado poderá preferir ter um maior retorno em contrapartida de um fundo de emergência mais pequeno.
É importante pesar estes factores para melhor compreender quais as reais necessidades do teu fundo de emergência.
Deves ainda reavaliar sempre que se verifique alguma alteração significativa na tua vida. O que te dá conforto e segurança hoje pode não ser o mesmo que funcionou no passado.
Em resumo
Esta é uma decisão (muito) pessoal e para a qual não existe uma resposta universal, independentemente do que qualquer maximalista possa dizer. Infelizmente não consigo oferecer uma fórmula mágica que possas aplicar.
Eu comecei com o objectivo de acumular 6 meses de despesas básicas porque nesse momento, com um portfolio de investimentos muito reduzido e uma situação financeira menos sólida, isso fazia sentido para mim.
E tu, que opinião tens sobre o fundo de emergência?