Avançar para o conteúdo
Home » Blog » Porque Não Invisto Em Criptomoedas

Porque Não Invisto Em Criptomoedas

O que deves obrigatoriamente entender antes de investir em criptomoedas.

As criptomoedas são uma classe de activos recente e pouco consensual. Alguns adoram-nas, outros detestam-nas. Mas é difícil ficar-lhes totalmente indiferente.

Depois de estudar e investir neste mercado, eu tirei as minhas próprias conclusões. Neste artigo vou partilhar contigo as principais razões que me levam a não investir em criptomoedas. Também tu deves considerá-las antes de decidir o que fazer.

A minha experiência

Eu comecei a investir em criptomoedas no início de 2021 depois de assistir a por mais de 1 ano a uma valorização exponencial. Admito que a minha maior motivação foi o medo de perder o comboio. Esta tendência parecia não ter limites e poderia ser o bilhete para atingir os meus objectivos mais cedo.

Mas a realidade foi muito diferente. Os 18 meses seguintes foram for uma montanha-russa de emoções e de volatilidade absurda. No final o saldo foi sem grande surpresa negativo, tendo acumulado quase 3 mil euros de perdas quando decidi encerrar o assunto.

Serei provavelmente das poucas pessoas a assumir publicamente que perdeu dinheiro com as criptomoedas. Sem problema. A minha missão é partilhar de forma transparente, independentemente do resultado.

Mas essa não é a principal razão para eu não investir mais em criptomoedas.

Esta viagem levou-me a aprender muito e depressa sobre investimentos, além de cometer quase todos os erros que é possível cometer. As grandes lições chegam nos momentos difíceis, quando as coisas não correm quando queremos. E assim compreendi o que eu quero e o que não quero para os meus investimentos.

Eis as razões que me fizeram repensar o meu investimento em criptomoedas…

Difícil de avaliar

Uma acção representa uma fatia de um negócio. Uma obrigação representa um empréstimo a uma empresa ou governo. Existe algo físico e tangível associado a estes investimentos. Existe uma expectativa quantificável de remuneração que lhes está associada.

As criptomoedas não tem um valor intrínseco quantificável, embora o mesmo também pode ser dito de qualquer outra moeda tradicional como o euro ou o dólar. Só têm valor enquanto alguém estiver disposto a pagar por elas. E as moedas fiduciárias têm a “vantagem” de ser impostas e seguradas pelos governos e instituições a nível mundial.

Tenho-me debatido muito sobre isto e já li muitas teorias sobre como avaliar criptomoedas, mas até agora não encontrei uma que me convencesse. A análise técnica e padrões de movimentação do preço não são uma ciência verdadeira na minha opinião. O valor total bloqueado (TVL) e outras variáveis discutidas também não se traduzem num modelo de avaliação confiável.

É quase impossível fazer qualquer tipo de avaliação ou projecção futura. E para mim é difícil racionalizar uma decisão de investimento quando não consigo estimar se o preço que estou a pagar é maior ou menor que o seu valor intrínseco – esta é a essência do investidor inteligente.

Mais especulação do que investimento

Não há como negar a valorização brutal registada no mercado das criptomoedas ao longo da sua ainda curta história. Essa ascensão recompensou generosamente quem investiu no início e conseguiu manter a sua posição, mas à custa de muita (mesmo muita) volatilidade.

A volatilidade não é necessariamente má. O grande Warren Buffett diz até que a volatilidade pode ser a melhor amiga dos investidores. Mas poucos têm o estômago necessário para seguir uma estratégia de investimento enquanto assistem a variações de 50% em menos de um mês. Grandes oscilações podem facilmente mexer com o nosso julgamento e levar-nos a tomar más decisões.

E se tudo parece maravilhoso quando o preço está a subir, ver o preço cair a pique pode ser um verdadeiro inferno. Pior só mesmo perceber que um qualquer comentário de um tipo como o Elon Musk é capaz de ditar o sentido dos investidores e do mercado.

Isto diz muito sobre o estado actual do mercado das criptomoedas. Os investidores são muito mais motivados pela especulação do que pelo investimento – é demasiada irracionalidade para que eu próprio a consiga impor alguma lógica.

Difícil de entender

Criptomoedas e blockchain são um conceito relativamente recente e bastante complexo, mais ainda se não formos chegados às novas tecnologias. Apesar de me considerar um entusiasta tecnológico e de ter dedicado já muitas horas de estudo, estou a anos-luz de dominar este tema.

A verdade é que a maioria de nós nunca conseguirá compreender verdadeiramente como funcionam as criptomoedas. Ainda que o código seja aberto, de pouco serve sem o conhecimento específico para o decifrar. Qual é realmente a diferença entre a criptomoeda A e B? O que faz uma blockchain melhor que as restantes? E como é que tudo isso contribui para o seu sucesso a longo prazo?

Se eu compreendesse verdadeiramente a dinâmica Terra Luna-UST provavelmente nunca teria investido e perdido dinheiro, como infelizmente acabou por acontecer. Uma coisa é sermos seduzidos por um conceito inovador, outra bem diferente é perceber o risco e potencial reais de um determinado projecto. E investir em algo que não compreendemos nunca é uma boa ideia.

Maioritariamente potencial

Eu acredito que esta tecnologia tem potencial, mas ainda tem pouco mais do que isso. Bem sei que já existem alguns projectos interessantes. No entanto a criptografia tem sérios problemas de escalabilidade e que dificultam a sua implementação em larga escala.

Problemas de processamento podem atrasar a taxa de transacções na blockchain. Decisões e actualização em regime descentralizado e ininterrupto demoram muito tempo a implementar. E ainda existem muitas soluções à procura de um problema real. Além disso, o código aberto é propício a ataques de hackers maliciosos.

Falta de regulamentação

Os puristas vão dizer que a falta de regulamentação não é um problema, mas antes uma característica intencional e uma vantagem. No entanto, as criptomoedas não poderão tornar-se num investimento sério sem sofrer algum tipo de regulamentação.

O número de casos de roubo não pára de aumentar, tanto de carteiras de investidores individuais como de corretoras e dos próprios projectos. E os esquemas de criptomoedas fraudulentas predominam no ecossistema. Na maioria das vezes não existe qualquer lei ou entidade que proteja os lesados e os criminosos saem impunes.

Podemos não gostar dos reguladores, dos governos ou das leis que estes criam e aplicam. Mas no geral, essa supervisão traz muito mais benefícios do que prejuízos aos mercados e aos investidores. Sem transparência e sem a protecção dos intervenientes, dificilmente as criptomoedas podem amadurecer como investimento.

Demasiada exposição

Muitos defendem que até uma pequena alocação em criptomoedas pode ser benéfica para a diversificação e rentabilidade de um portfolio. Mas se há coisa que o recente tombo me ensinou foi que tinha demasiada exposição a activos arriscados no meu portfolio, mais volatilidade do que aquela com que estou confortável.

Talvez porque a dada altura o investimento em criptomoedas representou 20% do meu portfolio. Ou talvez por o meu portfolio de investimentos não ser ainda suficientemente robusto. Afinal de contas ainda estou numa fase de acumulação de riqueza e existem limites para a desvalorização que eu posso aceitar.

Tudo depende do perfil de cada um, os mais agressivos poderão considerar uma alocação a activos alternativos entre 10% e 20% enquanto os mais moderados poderão limitar-se entre 1% e 5% do total. E as criptomoedas são apenas um dos vários activos alternativos que podemos escolher.

Conclusão

A minha experiência e as lições que daí tirei dizem-me que as criptomoedas não têm lugar no meu portfolio. Preciso focar-me em investimentos mais maduros, que compreendo e consigo avaliar, antes de considerar uma maior exposição a alternativas mais arriscadas, como as criptomoedas.

Isto não quer dizer que deixei de ver algum potencial nas criptomoedas. Mas pelas razões que descri, não consigo justificar o investimento.

Como tudo na vida, existem prós e contras e ter bom senso é fundamental para evitar maiores dissabores. Uma regra de ouro a seguir é nunca investir (especular) com mais dinheiro do que podes perder, porque mais cedo ou mais tarde é isso mesmo que vai acontecer. Acredita, eu sei isso por experiência própria.

Nada do que escrevi tem como objectivo encorajar ou desencorajar quem quer que seja a investir em criptomoedas. Esta é apenas a minha opinião pessoal e que partilho com total transparência com o objectivo de te fazer pensar.

Investe de forma inteligente e desfruta da viagem!

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *